domingo, 6 de julho de 2008

Inflação chega ao comércio informal, mas não espanta clientela

Camelôs também sofrem com alta generalizada de preços.
Vantagem competitiva sobre o comércio formal, no entanto, mantém volume de vendas.

POR: Laura Naime
Do G1, em São Paulo

A disparada dos preços dos alimentos já atinge o comércio informal do país. No centro de São Paulo, os camelôs reajustaram os preços cobrados dos clientes, para fazer frente ao maior preço pago aos fornecedores. E a perspectiva é de que continuem subindo.

Desde o início do ano, os preços dos alimentos para o consumidor já subiram 8,53%, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). Só no último mês, a alta foi de 2,20%.

A diferença aparece no comércio informal de alimentos do centro da capital paulista. Eli Santos, que mantém um carrinho no parque Dom Pedro II, cobra hoje R$ 1,50 por um milho cozido na espiga. No início do ano, o mesmo produto era vendido a R$ 1. "Tive que subir o preço, porque tudo subiu, né?", justifica.

Mesmo com alta de 50% no preço cobrado dos consumidores, Santos diz que ainda fica no prejuízo. O saco de milho, que ele compra no Mercado Municipal, passou de R$ 8 para R$ 16 – uma alta de 100% desde o início do ano.

A disparada do preço do milho também afeta quem faz uma 'boquinha' enquanto espera o ônibus na avenida Heitor Penteado, próximo à estação de metrô Vila Madalena. Há seis meses, o saquinho de pipoca vendido por Malta Albuquerque, que mantém um carrinho no local desde 2003, saía por R$ 1,50. Hoje o consumidor tem que desembolsar R$ 2,00.

"Não foi só o milho que subiu, foi tudo. O corante que eu uso na pipoca doce, por exemplo, hoje custa R$ 15. No começo do ano, eu pagava R$ 10", reclama Albuquerque. E não foi só isso. O óleo de soja também subiu quase 30% desde o início do ano.

E os doces também subiram. Vendedor em um carrinho de guloseimas na rua Direita, um ambulante que não quis se identificar admite que aumentou o preço de todos os produtos que vende. "Subiu tudo, então a gente repassa. Senão fica ruim", diz ele.

O preço do bombom vendido por ele passou de R$ 0,50 para R$ 0,60. Mesma alta percentual (20%) do pacote de bolacha recheada, que passou de R$ 1,00 para R$ 1,20.

Aplicando uma alta superior à media, o vendedor de doces não fica no prejuízo: a inflação do bombom, de janeiro a maio, ficou em 9,1%, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Já a bolacha recheada subiu, em média, 8,63%.

Para garantir a margem de lucro, ele dá a dica que vale também para os consumidores: "Precisa pesquisar na hora de comprar. Está todo mundo aumentando, mas tem diferença de preços. Então dá para economizar", diz.

Também vale trocar de produto: no carrinho ao lado do viaduto Diário Popular, Eduardo Pereira dos Santos vende frutas pelo mesmo preço desde o início do ano. Apesar da alta de apontada de 11,4% apontada pela Fipe no preço do abacaxi entre janeiro e maio, ele garante que paga hoje os mesmos R$ 1,80 por unidade que desembolsava em janeiro. "Está tudo normalizado. Para mim, continua a mesma vida de sempre", diz.

Vantagem competitiva


Mesmo cobrando preços mais altos, os ambulantes não reclamam de queda nas vendas. "Para mim não piorou nada, não. Sempre vende, o pessoal continua comprando. Então está tudo bem", diz o vendedor de milho do centro. "O pessoal reclamou quando subiu, mas vende igual", confirma o pipoqueiro.

A explicação, segundo o economista Fernando de Holanda, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, está no espalhamento da alta.

"A inflação afeta todos os preços, da economia formal e da informal, não tem como escapar. Só que aquela vantagem competitiva que a economia informal tinha, por conta do custo mais barato, permanece com a alta de preços", diz.

Mas há quem prefira não arriscar. Ingrid Cristina, que vende espetinhos de queijo coalho no Centro, prefere arcar com parte da alta para não arriscar a perda da clientela. Ingrid vendia o espetinho a R$ 1,50 no início do ano. Hoje, sai por R$ 2, uma alta de 33%.

Para ela, no entanto, os preços subiram 71%: a caixa com 120 espetinhos, pela qual pagava R$ 70 no início do ano, hoje custa R$ 120. Mas Ingrid não reclama e afirma que para ela está tudo igual. "A gente paga mais, mas vende por mais", diz.

Um vendedor de churrasquinho grego na rua Afonso Kherlakian, que preferiu não se identificar, diz que continua cobrando os mesmos R$ 1,50 pelo lanche desde o início do ano. Mas ele mostra o recibo para comprovar: o quilo da carne – que ele garante ser acém - comprada no açougue, subiu de R$ 5,50 para R$ 6,49.

"Não dá pra repassar, senão o pessoal não compra", diz o vendedor. "A gente está segurando o preço por enquanto, mas não sei até quando fica assim. Não sei se vai dar para segurar por muito tempo", avisa.

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