SUMÁRIO
Apresentação
Resumo do Livro
Introdução
Conclusão
Referências Bibliográficas
APRESENTAÇÃO
A idéia central deste trabalho surgiu a partir da leitura do livro “Quem Mexeu no Meu Queijo” (Johnson, 2001), o qual relata uma história fictícia de quatro personagens, dois ratos (Sniff e Scurry) e dois duendes (Hem e Haw). Cada qual com suas peculiaridades e semelhanças humanas. O autor trata da mudança na vida cotidiana das pessoas, sua adaptação a ela e como é possível se beneficiar com a mudança.
A proposta, portanto é analisar a história a partir da visão Behaviorista, bem como analisar as dicas presentes no livro – Sds - de como o terapeuta comportamental pode ajudar seu cliente (indivíduo, empresa, família e etc) em situações de mudança. Outro fator relevante é que o psicólogo trabalha basicamente com o processo de mudança e a adaptação do cliente a ela, utilizando como instrumento de trabalho (no caso do behaviorista) a análise funcional do comportamento humano.
De acordo com Meyer (1997) o uso da análise funcional possibilita ao analista do comportamento identificar as contingências que interferem no comportamento do indivíduo, tanto as que estão atuando no presente quanto as que operaram no passado. Com essas informações pode o analista realizar, junto ao indivíduo, as intervenções necessárias à mudança dos padrões de comportamento, de modo a possibilitar uma melhor adaptação do mesmo. Assunto este abordado no livro que estará sendo analisado no decorrer deste trabalho.
RESUMO DO LIVRO
O resumo que segue abaixo utiliza as mesmas palavras e algumas expressões citadas no livro.
O autor inicia o livro com algumas explicações acerca das personagens, afirmando que estas representam as partes simples e complexas do ser humano. Os ratos Sniff e Scurry representariam as partes simples, por perceberem logo a mudança e responderem a ela imediatamente. Já os duendes representariam as mais complexas, carregando consigo emoções e crenças, como Hem que rejeita a mudança e a percebe como algo ruim ou Haw que aprende a se adaptar a tempo, quando percebe que a mudança leva a algo melhor.
Em seguida, há um grupo de colegas de turma que se reencontram a discutem a respeito das mudanças que ocorreram em suas vidas e como lidaram com elas. Após isso se inicia a história.
Os duendes Hem e Haw e os ratos Sniff e Scurry vivem em um país distante, num labirinto em busca constante de queijo que os alimente e os faça feliz. Os ratos com seus sentidos aguçados buscavam seu queijo duro, bom de roer. Os duendes buscavam um queijo todo especial, suas buscas eram incrementadas pelos seus complexos cérebros, repletos de crenças, Queijo esse que lhes traria felicidade e sucesso.
O labirinto era repleto de possibilidades (queijos especiais), contudo havia muitos cantos escuros, porém com a promessa de uma vida melhor. Os ratos usavam o método de tentativa e erro, memorizavam os locais que não continham queijo e se aventuravam rapidamente por novas áreas. Sniff farejava o queijo com seu focinho grande e Scurry corria na direção do queijo. Enquanto que os duendes utilizavam sua capacidade de aprender com experiências passadas, assim como os ratos, para localizar seu queijo especial, contudo utilizavam também de seus cérebros complexos para analisar métodos mais eficazes de localizarem queijo.
Em algumas situações iam bem e em outras suas crenças e emoções os impediam de ter sucesso.
Cada qual munido de suas capacidades acabou encontrando um posto de queijo: o Posto C. Lá existia muito queijo e era um queijo especial que lhes trouxe satisfação. Após essa descoberta os duendes modificaram sua rotina, já não se levantavam tão cedo quanto antes e deixaram de vasculhar outros cantos do labirinto. Tinham a certeza de que o queijo estaria lhes esperando. No entanto, seus colegas de labirinto, Sniff e Scurry, continuaram a acordar cedo e mantinham a rotina de verificar a cada dia como estavam as coisas no posto, se o queijo estava como antes ou não.
Os duendes sentiam-se seguros, bem sucedidos e merecedores do queijo, até mudaram-se para perto do posto C. Exibiam seu monte de queijo aos amigos e sentiam-se donos do queijo. Contudo a satisfação transformou-se em arrogância.
Deixaram, portanto de perceber o que estava acontecendo com seu monte de queijo especial e numa bela manhã, quando iam buscar mais queijo, o impensável aconteceu. Não havia mais queijo. Pararam diante do vazio aonde “deveria” estar o queijo e ficaram estarrecidos. Hem gritou com muita raiva: Quem mexeu no queijo? Já Haw nenhuma reação esboçou.
Sniff e Scurry já haviam percebido que o monte de queijo estava diminuindo, sabiam que mais cedo ou mais tarde ele acabaria, ao chegarem ao posto não se sentiram surpresos com a mudança, olharam-se e foram em busca de mais queijo pelo labirinto afora.
Enquanto isso, os duendes tentavam analisar de que forma isso poderia ter acontecido, sentiam-se traídos e acreditavam ser esta situação injusta. Naquele dia e nos outros que se seguiram os duendes analisavam a situação, faziam buracos no local onde o queijo estava, acreditando que alguém havia o escondido em algum lugar, não suportando a idéia do queijo ter sumido. Já haviam se acostumado àquele queijo e o lugar lhes era familiar. Até que Haw se questiona se seus colegas (os ratos) haviam encontrado queijo fresco em outro local, mas a idéia de retornar ao labirinto, ter que voltar a procurar queijo, passar pelos locais escuros e desconhecidos o desencorajava. Questionou seu amigo Hem se deveriam voltar a procurar novamente no labirinto e este respondeu de forma negativa, afirmando que deveriam aguardar que recolocassem o queijo no posto, dizia-se velho demais para retomar a busca.
Apesar da negativa do amigo, Haw se vê saboreando um novo queijo, aventurando-se no labirinto e tendo sucesso, isso lhe dá forças para voltar à sua busca e enfrentar seu medo inicial, e o faz. Todas as vezes que se percebe sentindo medo nos cantos escuros do labirinto, procura rir de si mesmo e alimenta seu cérebro com a idéia de um novo queijo. Já seu amigo permanece sentando no posto C aguardando que algo novo aconteça.
Haw durante sua busca, vai deixando frases de suas novas descobertas, para que se o amigo resolver voltar à busca tenha pistas e ânimo para continuar. Começa escrevendo assim: “Se você não mudar morrerá”. Ao analisar a situação de ter ficado sem queijo, Haw se pergunta porque não havia se mexido mais cedo e voltado a procurar no labirinto. Em alguns momentos sente-se inseguro e tem vontade de voltar à segurança do posto C, mas reanima-se e vasculha os cantos do labirinto.
Conforme percebe seus medos e os vence, sente-se mais forte e vivo. Dessa experiência sai uma pergunta para ser escrita na parede: “O que você faria se não tivesse medo?”. Analisa que o medo é importante para lhe proteger, desde que não te impeça de fazer o que é preciso e necessário para sua vida. Percebe também que o queijo não havia sumido da noite para o dia, havia acabado pouco a pouco, eles que não haviam percebido. Desta reflexão Haw escreve: “Cheire o queijo com freqüência para saber quando está ficando velho”.
Haw começa a sentir-se sem forças físicas, pois já havia muito tempo que não alimentava-se e para não desistir escreveu outra frase: “O movimento em uma Nova direção ajuda-o a encontrar um novo queijo”.
Vez por outra o medo de não conseguir, de nunca mais encontrar queijo aparecia, mas Haw vencia seu medo pensando no que de bom poderia acontecer futuramente e ao dissipar esses medos, sentia-se cada vez melhor. Chegando a questionar-se porque estava tão bem se não havia encontrado queijo ainda. Desse questionamento sai outra frase: “Quando você vence seu medo sente-se livre”. Ao imaginar-se comendo outros queijos sente-se forte e escreve: “Imaginar-me saboreando o novo queijo, antes mesmo de encontrá-lo conduz-me a ele”.
Sentindo-se forte e alegre, continua a procurar e antes do esperado encontra um posto que continha alguns pequenos pedaços de queijo e delicia-se com estes e conclui que se tivesse saído do posto C antes talvez encontrasse esse novo posto ainda com queijo suficiente. Outra frase: “Quanto mais rápido você se esquece do velho queijo, mais rápido encontra um novo”.
Após ter descoberto esse posto novo, recolhe alguns pedaços e resolve levar ao amigo, para quem sabe ele sinta-se motivado a acompanhá-lo. Ao encontrar o posto C, conta-lhe ao amigo o que havia encontrado e que deveriam existir outros locais com mais queijo. Contudo, Hem agradece a ajuda do amigo, mas prefere ficar e aguardar que recoloquem o queijo velho no posto. Triste Haw se despede e continua sua busca. Após perceber a reação de seu amigo, aprende mais uma coisa: “É mais seguro procurar no labirinto do que permanecer sem queijo”.
Haw agora compreendia que a mudança era inevitável e que ela somente o surpreenderia se não estivesse atento ou não a procurasse. Descobriu também que estava mudando, seu jeito de pensar era novo, então escreveu a respeito de suas crenças: “As velhas crenças não levam ao novo queijo”.
Contudo Haw ainda não havia encontrado aquele queijo especial com Q maiúsculo, mas aprendera muito em sua nova jornada. E percebeu que: “Quando você acredita que pode encontrar e apreciar um novo queijo, muda de direção”. Descobriu também que se estivesse atento às mudanças ou procurasse por elas e se mexesse junto com o queijo, estaria melhor do que agora. Resolve então embrenhar-se em alguns locais escuros do labirinto que não havia vasculhado. Esperava estar caminhando na direção certa e para que Hem pudesse encontrá-lo também, parou e escreveu: “Notar cedo as pequenas mudanças ajuda-o a adaptar-se às maiores que ocorrerão”.
Ao entrar numa travessa escura avistou um posto, o posto N de queijo. Adentrou ao posto e viu uma pilha enorme de queijo, de várias cores e cheiros, experimentou-os e alguns nem conhecia, mas estava maravilhado. Viu também seus colegas Sniff e Scurry que se deleitavam ao lado da pilha. Sentiu-se alegre e brindou: Viva a mudança. Pensou por um instante no amigo, seria que teria conseguido encontrar o caminho? Será que vencera seus medos? Pensou em resumir as lições aprendidas, para que tanto seu amigo quanto ele não as esquecessem.
O manuscrito na Parede:
A mudança ocorre (Continuam a mexer no seu queijo)
Antecipe a mudança (Prepare-se para o caso do Queijo não estar no lugar)
Monitore a mudança (Cheire o queijo com freqüência para saber quando está ficando velho)
Adapte-se rapidamente à mudança (Quanto mais rápido você se esquece do velho queijo, mais rápido pode saborear um novo)
Mudança (Saia do lugar assim como o queijo)
Aprecie a mudança (Sinta o gosto da aventura e do novo queijo)
Esteja preparado para mudar rapidamente muitas vezes (Continuam mexendo no queijo).
Após a história o autor insere um debate a respeito do livro com aquelas mesmas personagens do início do livro. Cada um fala de seus insights e com qual personagem se identifica.
INTRODUÇÃO
No livro “Quem mexeu no meu queijo” algumas questões humanas são discutidas em forma de parábola, a mensagem é transmitida a partir da história das quatro personagens. Os ratos Sniff e Scurry representam, segundo o autor, as partes simples do ser humano, os quais ao se verem sem o queijo no posto C partem em busca de outros locais que possam encontrar esse queijo e suprir suas necessidades. Não se demoram a responder à mudança no ambiente. Já os duendes Hem e Haw representam as partes complexas, pois ao se depararem com a mudança respondem a ela tentando negar a realidade, enfrentam sentimentos de raiva e impotência.
A análise será realizada a partir de tópicos, eleitos como os mais importantes para a compreensão da história dentro da visão Behaviorista. Tais como:
1) Sniff e Scurry: discriminação de estímulos, comportamento governado por contingências;
2) Hem e Haw: Comportamento governado por regras.
3) O Queijo: reforço;
4) Encontrando o queijo no posto C: saciação;
5) Mensagens: Comportamento Verbal.
1) Sniff e Scurry: Discriminação de Estímulos, Comportamento governado por contingências.
Na história Sniff e Scurry não se vêem surpreendidos com o término do queijo, pois já haviam percebido que a montanha de queijo estava diminuindo e em algum momento terminaria e quando ela termina respondem a esse evento ambiental, de forma adequada, de acordo com sua história de condicionamento, farejando novos locais nos quais poderia haver queijo. Comportamento este que provavelmente se mostrou eficiente em localizar alimento. Outro aspecto relevante acerca das duas personagens é que houve discriminação de estímulos, pois quando o ambiente mudou o comportamento deles também mudou. Segundo Baum (1999, pg. 112) “Quando o comportamento muda diante da mudança do estímulo discriminativo, os analistas do comportamento denominam essa regularidade de discriminação” e “Toda discriminação resulta de uma história. Se não foi aprendida, resulta de uma história evolutiva”.
Outro fator a ser ressaltado é a importância do ambiente. Para Skinner (1993) o ambiente exerce controle sobre o comportamento e é de vital importância que o indivíduo esteja atento ao ambiente e às suas modificações. Quando o indivíduo não percebe adequadamente a realidade, pode se ter uma forma de comportamento chamado psicótico.
O último aspecto a ser analisado é que Sniff e Scurry apresentam comportamento governado por contingências, pois discriminam as mudanças presentes no ambiente (modificação das contingências) e respondem a estas mudanças de forma a se adaptarem às novas contingências. Corroborando a análise, Baum (1993, pg.156) explica que comportamento governado pelas contingências “... refere-se ao comportamento que é modelado e mantido diretamente por conseqüências relativamente imediatas, que não dependem de ouvir ou ler uma regra”.
2) Hem e Haw: Comportamento governado por regras.
A regra é aprendida através da comunidade verbal e sempre descreve uma contingência, para Skinner (1995) existem várias razões para que pessoas sigam regras e se comportem de determinadas maneiras, podendo estas maneiras, terem sido selecionadas naturalmente pela espécie enquanto outras se devem ao que é reforçador para o grupo. No caso deles a regra “se eu permanecer no posto C aguardando, então o queijo aparecerá”. Neste caso o reforço que mantém o comportamento de Hem e Haw é o queijo. Contudo, parece que Haw passa por um procedimento de extinção, já que o comportamento de esperar não é reforçado, pois o queijo não é apresentado e há, portanto a suspensão do reforçamento (Keller, 1973). Havendo este procedimento de extinção, ele entra em privação e torna-se motivado a emitir novos comportamentos. Contudo, para se compreender o significado do termo motivação é necessário segundo Staats e Staats (1973) realizar um estudo das fontes de reforçamento. Outro aspecto relacionado à motivação é o estado de privação, onde um organismo é privado de certos estímulos e estes passam a ter seu valor reforçador aumentado, fato este que provavelmente ocorreu com o queijo para os duendes.
Quanto às regras, parece ocorrer uma reestruturação da antiga regra de Haw, pois ao começar a responder às novas contingências ele passa a construir novas regras (as dicas que escreve na parede).
3) O Queijo: reforço.
O reforço possui um papel central na história, haja vista que as personagens se comportam (farejam, analisam, correm etc) em função do reforço: o queijo. Servindo de analogia, segundo o autor, com as coisas que o homem busca em sua vida, ou se comporta para obtê-las. Aprovação social; realização; felicidade; status; vida sexual satisfatória e muitas outras.
Neste sentido podemos dizer que algo (por exemplo, o queijo) é reforçador porque fortalece um dado comportamento, aumentando a freqüência deste. Skinner coloca que “A única maneira de dizer se um dado evento é reforçador ou não para um dado organismo sob dadas condições é fazer um teste direto. Observamos a freqüência de uma resposta selecionada, depois tornamos um evento a ela contingente e observamos qualquer mudança na freqüência. Se houver mudança, classificamos o evento como reforçador para o organismo sob as condições existentes” (1993, pg. 81).
Para Keller “O alimento, para um organismo faminto, tem uma espécie de capacidade inata de reforçar o comportamento. Da mesma forma, a bebida, sob condições de sede” (1973, pg. 50).
4) Encontrando o queijo no posto C: saciação.
Quando os duendes encontram queijo no posto C, seu comportamento foi positivamente reforçado, ou seja, o reforço foi apresentado como conseqüência de seu comportamento. O que acaba por manter esse comportamento, portanto é a localização do queijo.
Pelo fato dos duendes terem a convicção de que o reforço (queijo) estaria sempre disponível, eles comiam até o ponto da saciação e após estarem saciados, e terem a certeza da existência permanente de queijo (reforçamento contínuo) eles se acomodaram e não pensaram na possibilidade de que o queijo poderia acabar, fato este que os pegou de surpresa e, portanto não estavam preparados para as novas contingências (os duendes não discriminaram as mudanças ambientais).
Baum (1993, pg. 79) explica que “... nenhum reforçador funciona como tal o tempo todo. Se você acaba de comer três fatias de torta de maçã e seu cortês anfitrião ainda lhe oferece mais uma, você, agora, provavelmente vai recusar. Por mais poderoso que seja o reforçador, ainda é possível a saturação”.
5) Mensagens: Comportamento Verbal.
Ao se falar de regras fala-se de comportamento. Para Catania (1999) linguagem é comportamento, pois está diretamente relacionada com as contingências presentes e provoca alterações no meio. Estas alterações podem ser tanto verbais quanto não-verbais e um indivíduo pode mudar o comportamento de outro dando instruções, sendo talvez essa a função primária da linguagem. Neste sentido as “dicas” deixadas por Haw na parede do labirinto podem servir como estímulos discriminativos para Hem e talvez possa mudar seu comportamento a partir dessas “dicas”. O que segundo Skinner (1978) caracteriza um tipo específico de comportamento verbal, sendo este o mando tipo conselho. O qual descreve uma possibilidade de reforço.
As dicas deixadas por Haw foram as seguintes:
1 - A mudança ocorre (Continuam a mexer no seu queijo)
É possível perceber que o ser humano está em constante interação com o seu meio ambiente, ele modifica o ambiente e o ambiente o modifica. O que sugere que a vida do ser humano não seja estática, mudanças sociais e culturais, biológicas e comportamentais ocorrem e afetam o indivíduo. Uma guerra em outro continente afetará provavelmente indivíduos que nada tenham haver com esta. Um furacão que atinja a costa oeste americana, afetará o clima brasileiro.
2- Antecipe a mudança (Prepare-se para o caso do Queijo não estar no lugar)
Nesta mensagem pode-se dizer que Haw está falando sobre a importância de discriminar as alterações contingenciais e desenvolver novos padrões de comportamento que sejam mais funcionais e adaptativos às novas contingências.
3 - Monitore a mudança (Cheire o queijo com freqüência para saber quando está ficando velho).
Esta regra sugere que é importante identificar a mudança, seja ela qual for e a partir disso desenvolver estratégias de enfrentamento.
4 - Adapte-se rapidamente à mudança (Quanto mais rápido você se esquece do velho queijo, mais rápido pode saborear um novo).
Aqui sugere-se testar as estratégias percebidas e definir qual a melhor a ser usada, com o objetivo de se adaptar às mudanças (novas contingências).
5 - Mudança (Saia do lugar assim como o queijo)
A partir da mudança do ambiente adapte-se a ela e mude juntamente com as novas contingências.
6 - Aprecie a mudança (Sinta o gosto da aventura e do novo queijo)
Se a mudança aconteceu e são necessários novos repertórios para lidar com ela, invista neles e procure colocar-se sob controle de estímulos discriminativos que tragam satisfação.
7 - Esteja preparado para mudar rapidamente muitas vezes (Continuam mexendo no queijo).
Desenvolver novos repertórios e buscar as potencialidades que melhor são reforçadas para cada indivíduo o prepara para possíveis alterações ambientais, sociais ou biológicas.
A partir do que foi escrito até aqui foi possível perceber que o livro “Quem mexeu no queijo?”, aborda a temática mudança, apontando para a importância de percebê-la acontecendo e adaptar-se a ela. Skinner (1983, pg. 98) ao falar sobre aspectos culturais e a evolução da cultura corrobora as colocações a respeito da mudança, “As contingências necessariamente se alteram. O ambiente físico se modifica, à medida que as pessoas se deslocam, que o clima se altera, que os recursos naturais se esgotam ou são desviados para outros fins, ou ainda inutilizados e assim sucessivamente. As próprias contingências sociais se modificam à proporção que se alteram as dimensões do grupo ou as relações deste com outros grupos, ou que as instituições de controle se tornam mais ou menos poderosas ou competem entre si, ou o controle exercido leve ao contracontrole sob a forma de fuga ou revolta”.
Pensando na prática clínica Wolpe (1976) propõe que o objetivo central de uma psicoterapia está relacionado à retirada das origens do sofrimento e da incapacidade. Neste sentido Skinner (1993, pg.45) afirma que “Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa variável dependente – o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas variáveis independentes – as causas do comportamento – são as condições externas das quais o comportamento é função”. Desta forma, retomando uma idéia apresentada no início do trabalho, é fundamental que o analista do comportamento faça uso da análise funcional constantemente de forma a perceber as mudanças, antecipá-las e criar estratégias de intervenções adequadas à necessidade do indivíduo.
De acordo com Vandenberghe (2002) o analista do comportamento deve estar atento não somente às relações do cliente com o ambiente externo, mas à própria interação terapeuta-cliente, visto que o comportamento do analista estará sendo influenciado pelo comportamento do cliente e vice-versa.
Para finalizar Skinner e Vaughan (1985) apontam para a importância de se estar atento às próprias mudanças de forma a planejar uma velhice com qualidade. Neste sentido eles afirmam que “Uma boa época para se pensar sobre a velhice é a juventude, porque então é possível melhorar as chances de vir a vivê-la bem quando chegar” (1985, pg. 18). Ou seja, estar atento às mudanças, criar estratégias para adaptar-se às mesmas e conseqüentemente ter uma melhora na qualidade de vida.
CONCLUSÃO
A partir do que foi analisado até aqui a respeito do livro “Quem Mexeu no Queijo?”, é possível concluir que a história pode ser interpretada a partir da visão Behaviorista, bem como utilizado como recurso terapêutico clínico. Haja vista que o livro propõe dicas de como as mudanças podem ser enfrentadas e como se adaptar a elas. Para o terapeuta que se propõe a analisar os recursos terapêuticos existentes, inclusive um livro de auto-ajuda pode ser utilizado com o objetivo de levar o cliente a discriminar certos aspectos comportamentais (biblioterapia).
Contudo apesar do livro fornecer algumas dicas de comportamento, as contingências não são descritas de forma clara. O que até certo pode vir a impossibilitar a devida discriminação e conseqüente mudança de comportamento. Portanto no caso de um terapeuta utilizar deste recurso deve atentar a esse aspecto e até auxiliar o cliente a analisar e aplicar as dicas existentes, levando em consideração que cada indivíduo possui uma história de condicionamento única.
É importante salientar que todo e qualquer material de auto-ajuda necessita de uma avaliação crítica, pois existem livros que além de não descreverem contingências claras sugerem regras disfuncionais e talvez até perigosas. O que não é verificado no presente livro analisado há uma “falha” em descrever as contingências, contudo as regras podem ser utilizadas com uma supervisão adequada.
Falar de mudança é falar algumas vezes de eventos aversivos na história do indivíduo, contudo algumas mudanças não podem ser revertidas e, portanto a capacidade de discriminação e adaptação às novas contingências é necessária até para o melhor enfrentamento de tais eventos. Quando os indivíduos procuram a psicoterapia, a procuram na maioria das vezes por se encontrarem em situações aversivas, a psicoterapia entra, portanto com a promessa de reforçamento através da remoção dos aversivos e conquista de novos reforçadores.
Torna-se fundamental, portanto o conhecimento cada vez mais acurado a respeito dos processos humanos de mudança. Pois ser terapeuta é antes de tudo ser um estudioso, um cientista. Não bastasse isso o terapeuta deve também conhecer a si e sua forma de se relacionar com o mundo.
Minha Casa (Zeca Baleiro)
É mais fácil cultuar os mortos que os vivos
Mais fácil viver de sombras que de sóis
É mais fácil mimeografar o passado
Que imprimir o futuro
Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece
lendo maiakovski na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo
Nem quero ser estanque
Como quem constrói estradas e não anda
Quero no escuro
Como um cego tatear estrelas distraídas
Amoras silvestres no passeio público
Amores secretos debaixo dos guarda-chuvas
Tempestades que não param
Pára-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem não posso parar
Vejo o mundo passar como passa
Uma escola de samba que atravessa
Pergunto onde estão teus tamborins
Sentando na porta de minha casa
A mesma e única casa
A casa onde eu sempre morei.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Baum, W. M. Compreender o Behaviorismo. Porto Alegre: . ArtMed, 1999.
Catania, A. C. Aprendizagem: Comportamento, Linguagem e Cognição. Porto Alegre: AtrMed, 1999.
Johnson, S. Quem Mexeu no Meu Queijo. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Keller, F. S. Aprendizagem: Teoria do Reforço. São Paulo: E.P.U., 1973.
Meyer, S.B. O conceito de Análise Funcional. In: Delitti, M. (Org). Sobre o Comportamento e Cognição, Vol. 2. Santo André: . Arbytes, 1997.
Skinner, B. F. & Vaughan, M. E. Viva Bem a Velhice. São Paulo: Summus, 1985.
Skinner, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
Skinner, B. F. O Comportamento Verbal. São Paulo: Cultrix, 1978.
Skinner, B. F. O Mito da Liberdade. São Paulo: Summus, 1983.
Skinner, B. F. Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas: Papirus, 1995.
Staats, A. W. & Staats, C. K. Comportamento Humano Complexo. São Paulo: E.P.U., 1973.
Vandenberghe, L. A prática e as implicações da análise funcional. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, IV (1), 35-45, 2002.
Wolpe, J. Prática da Terapia Comportamental. São Paulo: Brasiliense, 1976.
Apresentação
Resumo do Livro
Introdução
Conclusão
Referências Bibliográficas
APRESENTAÇÃO
A idéia central deste trabalho surgiu a partir da leitura do livro “Quem Mexeu no Meu Queijo” (Johnson, 2001), o qual relata uma história fictícia de quatro personagens, dois ratos (Sniff e Scurry) e dois duendes (Hem e Haw). Cada qual com suas peculiaridades e semelhanças humanas. O autor trata da mudança na vida cotidiana das pessoas, sua adaptação a ela e como é possível se beneficiar com a mudança.
A proposta, portanto é analisar a história a partir da visão Behaviorista, bem como analisar as dicas presentes no livro – Sds - de como o terapeuta comportamental pode ajudar seu cliente (indivíduo, empresa, família e etc) em situações de mudança. Outro fator relevante é que o psicólogo trabalha basicamente com o processo de mudança e a adaptação do cliente a ela, utilizando como instrumento de trabalho (no caso do behaviorista) a análise funcional do comportamento humano.
De acordo com Meyer (1997) o uso da análise funcional possibilita ao analista do comportamento identificar as contingências que interferem no comportamento do indivíduo, tanto as que estão atuando no presente quanto as que operaram no passado. Com essas informações pode o analista realizar, junto ao indivíduo, as intervenções necessárias à mudança dos padrões de comportamento, de modo a possibilitar uma melhor adaptação do mesmo. Assunto este abordado no livro que estará sendo analisado no decorrer deste trabalho.
RESUMO DO LIVRO
O resumo que segue abaixo utiliza as mesmas palavras e algumas expressões citadas no livro.
O autor inicia o livro com algumas explicações acerca das personagens, afirmando que estas representam as partes simples e complexas do ser humano. Os ratos Sniff e Scurry representariam as partes simples, por perceberem logo a mudança e responderem a ela imediatamente. Já os duendes representariam as mais complexas, carregando consigo emoções e crenças, como Hem que rejeita a mudança e a percebe como algo ruim ou Haw que aprende a se adaptar a tempo, quando percebe que a mudança leva a algo melhor.
Em seguida, há um grupo de colegas de turma que se reencontram a discutem a respeito das mudanças que ocorreram em suas vidas e como lidaram com elas. Após isso se inicia a história.
Os duendes Hem e Haw e os ratos Sniff e Scurry vivem em um país distante, num labirinto em busca constante de queijo que os alimente e os faça feliz. Os ratos com seus sentidos aguçados buscavam seu queijo duro, bom de roer. Os duendes buscavam um queijo todo especial, suas buscas eram incrementadas pelos seus complexos cérebros, repletos de crenças, Queijo esse que lhes traria felicidade e sucesso.
O labirinto era repleto de possibilidades (queijos especiais), contudo havia muitos cantos escuros, porém com a promessa de uma vida melhor. Os ratos usavam o método de tentativa e erro, memorizavam os locais que não continham queijo e se aventuravam rapidamente por novas áreas. Sniff farejava o queijo com seu focinho grande e Scurry corria na direção do queijo. Enquanto que os duendes utilizavam sua capacidade de aprender com experiências passadas, assim como os ratos, para localizar seu queijo especial, contudo utilizavam também de seus cérebros complexos para analisar métodos mais eficazes de localizarem queijo.
Em algumas situações iam bem e em outras suas crenças e emoções os impediam de ter sucesso.
Cada qual munido de suas capacidades acabou encontrando um posto de queijo: o Posto C. Lá existia muito queijo e era um queijo especial que lhes trouxe satisfação. Após essa descoberta os duendes modificaram sua rotina, já não se levantavam tão cedo quanto antes e deixaram de vasculhar outros cantos do labirinto. Tinham a certeza de que o queijo estaria lhes esperando. No entanto, seus colegas de labirinto, Sniff e Scurry, continuaram a acordar cedo e mantinham a rotina de verificar a cada dia como estavam as coisas no posto, se o queijo estava como antes ou não.
Os duendes sentiam-se seguros, bem sucedidos e merecedores do queijo, até mudaram-se para perto do posto C. Exibiam seu monte de queijo aos amigos e sentiam-se donos do queijo. Contudo a satisfação transformou-se em arrogância.
Deixaram, portanto de perceber o que estava acontecendo com seu monte de queijo especial e numa bela manhã, quando iam buscar mais queijo, o impensável aconteceu. Não havia mais queijo. Pararam diante do vazio aonde “deveria” estar o queijo e ficaram estarrecidos. Hem gritou com muita raiva: Quem mexeu no queijo? Já Haw nenhuma reação esboçou.
Sniff e Scurry já haviam percebido que o monte de queijo estava diminuindo, sabiam que mais cedo ou mais tarde ele acabaria, ao chegarem ao posto não se sentiram surpresos com a mudança, olharam-se e foram em busca de mais queijo pelo labirinto afora.
Enquanto isso, os duendes tentavam analisar de que forma isso poderia ter acontecido, sentiam-se traídos e acreditavam ser esta situação injusta. Naquele dia e nos outros que se seguiram os duendes analisavam a situação, faziam buracos no local onde o queijo estava, acreditando que alguém havia o escondido em algum lugar, não suportando a idéia do queijo ter sumido. Já haviam se acostumado àquele queijo e o lugar lhes era familiar. Até que Haw se questiona se seus colegas (os ratos) haviam encontrado queijo fresco em outro local, mas a idéia de retornar ao labirinto, ter que voltar a procurar queijo, passar pelos locais escuros e desconhecidos o desencorajava. Questionou seu amigo Hem se deveriam voltar a procurar novamente no labirinto e este respondeu de forma negativa, afirmando que deveriam aguardar que recolocassem o queijo no posto, dizia-se velho demais para retomar a busca.
Apesar da negativa do amigo, Haw se vê saboreando um novo queijo, aventurando-se no labirinto e tendo sucesso, isso lhe dá forças para voltar à sua busca e enfrentar seu medo inicial, e o faz. Todas as vezes que se percebe sentindo medo nos cantos escuros do labirinto, procura rir de si mesmo e alimenta seu cérebro com a idéia de um novo queijo. Já seu amigo permanece sentando no posto C aguardando que algo novo aconteça.
Haw durante sua busca, vai deixando frases de suas novas descobertas, para que se o amigo resolver voltar à busca tenha pistas e ânimo para continuar. Começa escrevendo assim: “Se você não mudar morrerá”. Ao analisar a situação de ter ficado sem queijo, Haw se pergunta porque não havia se mexido mais cedo e voltado a procurar no labirinto. Em alguns momentos sente-se inseguro e tem vontade de voltar à segurança do posto C, mas reanima-se e vasculha os cantos do labirinto.
Conforme percebe seus medos e os vence, sente-se mais forte e vivo. Dessa experiência sai uma pergunta para ser escrita na parede: “O que você faria se não tivesse medo?”. Analisa que o medo é importante para lhe proteger, desde que não te impeça de fazer o que é preciso e necessário para sua vida. Percebe também que o queijo não havia sumido da noite para o dia, havia acabado pouco a pouco, eles que não haviam percebido. Desta reflexão Haw escreve: “Cheire o queijo com freqüência para saber quando está ficando velho”.
Haw começa a sentir-se sem forças físicas, pois já havia muito tempo que não alimentava-se e para não desistir escreveu outra frase: “O movimento em uma Nova direção ajuda-o a encontrar um novo queijo”.
Vez por outra o medo de não conseguir, de nunca mais encontrar queijo aparecia, mas Haw vencia seu medo pensando no que de bom poderia acontecer futuramente e ao dissipar esses medos, sentia-se cada vez melhor. Chegando a questionar-se porque estava tão bem se não havia encontrado queijo ainda. Desse questionamento sai outra frase: “Quando você vence seu medo sente-se livre”. Ao imaginar-se comendo outros queijos sente-se forte e escreve: “Imaginar-me saboreando o novo queijo, antes mesmo de encontrá-lo conduz-me a ele”.
Sentindo-se forte e alegre, continua a procurar e antes do esperado encontra um posto que continha alguns pequenos pedaços de queijo e delicia-se com estes e conclui que se tivesse saído do posto C antes talvez encontrasse esse novo posto ainda com queijo suficiente. Outra frase: “Quanto mais rápido você se esquece do velho queijo, mais rápido encontra um novo”.
Após ter descoberto esse posto novo, recolhe alguns pedaços e resolve levar ao amigo, para quem sabe ele sinta-se motivado a acompanhá-lo. Ao encontrar o posto C, conta-lhe ao amigo o que havia encontrado e que deveriam existir outros locais com mais queijo. Contudo, Hem agradece a ajuda do amigo, mas prefere ficar e aguardar que recoloquem o queijo velho no posto. Triste Haw se despede e continua sua busca. Após perceber a reação de seu amigo, aprende mais uma coisa: “É mais seguro procurar no labirinto do que permanecer sem queijo”.
Haw agora compreendia que a mudança era inevitável e que ela somente o surpreenderia se não estivesse atento ou não a procurasse. Descobriu também que estava mudando, seu jeito de pensar era novo, então escreveu a respeito de suas crenças: “As velhas crenças não levam ao novo queijo”.
Contudo Haw ainda não havia encontrado aquele queijo especial com Q maiúsculo, mas aprendera muito em sua nova jornada. E percebeu que: “Quando você acredita que pode encontrar e apreciar um novo queijo, muda de direção”. Descobriu também que se estivesse atento às mudanças ou procurasse por elas e se mexesse junto com o queijo, estaria melhor do que agora. Resolve então embrenhar-se em alguns locais escuros do labirinto que não havia vasculhado. Esperava estar caminhando na direção certa e para que Hem pudesse encontrá-lo também, parou e escreveu: “Notar cedo as pequenas mudanças ajuda-o a adaptar-se às maiores que ocorrerão”.
Ao entrar numa travessa escura avistou um posto, o posto N de queijo. Adentrou ao posto e viu uma pilha enorme de queijo, de várias cores e cheiros, experimentou-os e alguns nem conhecia, mas estava maravilhado. Viu também seus colegas Sniff e Scurry que se deleitavam ao lado da pilha. Sentiu-se alegre e brindou: Viva a mudança. Pensou por um instante no amigo, seria que teria conseguido encontrar o caminho? Será que vencera seus medos? Pensou em resumir as lições aprendidas, para que tanto seu amigo quanto ele não as esquecessem.
O manuscrito na Parede:
A mudança ocorre (Continuam a mexer no seu queijo)
Antecipe a mudança (Prepare-se para o caso do Queijo não estar no lugar)
Monitore a mudança (Cheire o queijo com freqüência para saber quando está ficando velho)
Adapte-se rapidamente à mudança (Quanto mais rápido você se esquece do velho queijo, mais rápido pode saborear um novo)
Mudança (Saia do lugar assim como o queijo)
Aprecie a mudança (Sinta o gosto da aventura e do novo queijo)
Esteja preparado para mudar rapidamente muitas vezes (Continuam mexendo no queijo).
Após a história o autor insere um debate a respeito do livro com aquelas mesmas personagens do início do livro. Cada um fala de seus insights e com qual personagem se identifica.
INTRODUÇÃO
No livro “Quem mexeu no meu queijo” algumas questões humanas são discutidas em forma de parábola, a mensagem é transmitida a partir da história das quatro personagens. Os ratos Sniff e Scurry representam, segundo o autor, as partes simples do ser humano, os quais ao se verem sem o queijo no posto C partem em busca de outros locais que possam encontrar esse queijo e suprir suas necessidades. Não se demoram a responder à mudança no ambiente. Já os duendes Hem e Haw representam as partes complexas, pois ao se depararem com a mudança respondem a ela tentando negar a realidade, enfrentam sentimentos de raiva e impotência.
A análise será realizada a partir de tópicos, eleitos como os mais importantes para a compreensão da história dentro da visão Behaviorista. Tais como:
1) Sniff e Scurry: discriminação de estímulos, comportamento governado por contingências;
2) Hem e Haw: Comportamento governado por regras.
3) O Queijo: reforço;
4) Encontrando o queijo no posto C: saciação;
5) Mensagens: Comportamento Verbal.
1) Sniff e Scurry: Discriminação de Estímulos, Comportamento governado por contingências.
Na história Sniff e Scurry não se vêem surpreendidos com o término do queijo, pois já haviam percebido que a montanha de queijo estava diminuindo e em algum momento terminaria e quando ela termina respondem a esse evento ambiental, de forma adequada, de acordo com sua história de condicionamento, farejando novos locais nos quais poderia haver queijo. Comportamento este que provavelmente se mostrou eficiente em localizar alimento. Outro aspecto relevante acerca das duas personagens é que houve discriminação de estímulos, pois quando o ambiente mudou o comportamento deles também mudou. Segundo Baum (1999, pg. 112) “Quando o comportamento muda diante da mudança do estímulo discriminativo, os analistas do comportamento denominam essa regularidade de discriminação” e “Toda discriminação resulta de uma história. Se não foi aprendida, resulta de uma história evolutiva”.
Outro fator a ser ressaltado é a importância do ambiente. Para Skinner (1993) o ambiente exerce controle sobre o comportamento e é de vital importância que o indivíduo esteja atento ao ambiente e às suas modificações. Quando o indivíduo não percebe adequadamente a realidade, pode se ter uma forma de comportamento chamado psicótico.
O último aspecto a ser analisado é que Sniff e Scurry apresentam comportamento governado por contingências, pois discriminam as mudanças presentes no ambiente (modificação das contingências) e respondem a estas mudanças de forma a se adaptarem às novas contingências. Corroborando a análise, Baum (1993, pg.156) explica que comportamento governado pelas contingências “... refere-se ao comportamento que é modelado e mantido diretamente por conseqüências relativamente imediatas, que não dependem de ouvir ou ler uma regra”.
2) Hem e Haw: Comportamento governado por regras.
A regra é aprendida através da comunidade verbal e sempre descreve uma contingência, para Skinner (1995) existem várias razões para que pessoas sigam regras e se comportem de determinadas maneiras, podendo estas maneiras, terem sido selecionadas naturalmente pela espécie enquanto outras se devem ao que é reforçador para o grupo. No caso deles a regra “se eu permanecer no posto C aguardando, então o queijo aparecerá”. Neste caso o reforço que mantém o comportamento de Hem e Haw é o queijo. Contudo, parece que Haw passa por um procedimento de extinção, já que o comportamento de esperar não é reforçado, pois o queijo não é apresentado e há, portanto a suspensão do reforçamento (Keller, 1973). Havendo este procedimento de extinção, ele entra em privação e torna-se motivado a emitir novos comportamentos. Contudo, para se compreender o significado do termo motivação é necessário segundo Staats e Staats (1973) realizar um estudo das fontes de reforçamento. Outro aspecto relacionado à motivação é o estado de privação, onde um organismo é privado de certos estímulos e estes passam a ter seu valor reforçador aumentado, fato este que provavelmente ocorreu com o queijo para os duendes.
Quanto às regras, parece ocorrer uma reestruturação da antiga regra de Haw, pois ao começar a responder às novas contingências ele passa a construir novas regras (as dicas que escreve na parede).
3) O Queijo: reforço.
O reforço possui um papel central na história, haja vista que as personagens se comportam (farejam, analisam, correm etc) em função do reforço: o queijo. Servindo de analogia, segundo o autor, com as coisas que o homem busca em sua vida, ou se comporta para obtê-las. Aprovação social; realização; felicidade; status; vida sexual satisfatória e muitas outras.
Neste sentido podemos dizer que algo (por exemplo, o queijo) é reforçador porque fortalece um dado comportamento, aumentando a freqüência deste. Skinner coloca que “A única maneira de dizer se um dado evento é reforçador ou não para um dado organismo sob dadas condições é fazer um teste direto. Observamos a freqüência de uma resposta selecionada, depois tornamos um evento a ela contingente e observamos qualquer mudança na freqüência. Se houver mudança, classificamos o evento como reforçador para o organismo sob as condições existentes” (1993, pg. 81).
Para Keller “O alimento, para um organismo faminto, tem uma espécie de capacidade inata de reforçar o comportamento. Da mesma forma, a bebida, sob condições de sede” (1973, pg. 50).
4) Encontrando o queijo no posto C: saciação.
Quando os duendes encontram queijo no posto C, seu comportamento foi positivamente reforçado, ou seja, o reforço foi apresentado como conseqüência de seu comportamento. O que acaba por manter esse comportamento, portanto é a localização do queijo.
Pelo fato dos duendes terem a convicção de que o reforço (queijo) estaria sempre disponível, eles comiam até o ponto da saciação e após estarem saciados, e terem a certeza da existência permanente de queijo (reforçamento contínuo) eles se acomodaram e não pensaram na possibilidade de que o queijo poderia acabar, fato este que os pegou de surpresa e, portanto não estavam preparados para as novas contingências (os duendes não discriminaram as mudanças ambientais).
Baum (1993, pg. 79) explica que “... nenhum reforçador funciona como tal o tempo todo. Se você acaba de comer três fatias de torta de maçã e seu cortês anfitrião ainda lhe oferece mais uma, você, agora, provavelmente vai recusar. Por mais poderoso que seja o reforçador, ainda é possível a saturação”.
5) Mensagens: Comportamento Verbal.
Ao se falar de regras fala-se de comportamento. Para Catania (1999) linguagem é comportamento, pois está diretamente relacionada com as contingências presentes e provoca alterações no meio. Estas alterações podem ser tanto verbais quanto não-verbais e um indivíduo pode mudar o comportamento de outro dando instruções, sendo talvez essa a função primária da linguagem. Neste sentido as “dicas” deixadas por Haw na parede do labirinto podem servir como estímulos discriminativos para Hem e talvez possa mudar seu comportamento a partir dessas “dicas”. O que segundo Skinner (1978) caracteriza um tipo específico de comportamento verbal, sendo este o mando tipo conselho. O qual descreve uma possibilidade de reforço.
As dicas deixadas por Haw foram as seguintes:
1 - A mudança ocorre (Continuam a mexer no seu queijo)
É possível perceber que o ser humano está em constante interação com o seu meio ambiente, ele modifica o ambiente e o ambiente o modifica. O que sugere que a vida do ser humano não seja estática, mudanças sociais e culturais, biológicas e comportamentais ocorrem e afetam o indivíduo. Uma guerra em outro continente afetará provavelmente indivíduos que nada tenham haver com esta. Um furacão que atinja a costa oeste americana, afetará o clima brasileiro.
2- Antecipe a mudança (Prepare-se para o caso do Queijo não estar no lugar)
Nesta mensagem pode-se dizer que Haw está falando sobre a importância de discriminar as alterações contingenciais e desenvolver novos padrões de comportamento que sejam mais funcionais e adaptativos às novas contingências.
3 - Monitore a mudança (Cheire o queijo com freqüência para saber quando está ficando velho).
Esta regra sugere que é importante identificar a mudança, seja ela qual for e a partir disso desenvolver estratégias de enfrentamento.
4 - Adapte-se rapidamente à mudança (Quanto mais rápido você se esquece do velho queijo, mais rápido pode saborear um novo).
Aqui sugere-se testar as estratégias percebidas e definir qual a melhor a ser usada, com o objetivo de se adaptar às mudanças (novas contingências).
5 - Mudança (Saia do lugar assim como o queijo)
A partir da mudança do ambiente adapte-se a ela e mude juntamente com as novas contingências.
6 - Aprecie a mudança (Sinta o gosto da aventura e do novo queijo)
Se a mudança aconteceu e são necessários novos repertórios para lidar com ela, invista neles e procure colocar-se sob controle de estímulos discriminativos que tragam satisfação.
7 - Esteja preparado para mudar rapidamente muitas vezes (Continuam mexendo no queijo).
Desenvolver novos repertórios e buscar as potencialidades que melhor são reforçadas para cada indivíduo o prepara para possíveis alterações ambientais, sociais ou biológicas.
A partir do que foi escrito até aqui foi possível perceber que o livro “Quem mexeu no queijo?”, aborda a temática mudança, apontando para a importância de percebê-la acontecendo e adaptar-se a ela. Skinner (1983, pg. 98) ao falar sobre aspectos culturais e a evolução da cultura corrobora as colocações a respeito da mudança, “As contingências necessariamente se alteram. O ambiente físico se modifica, à medida que as pessoas se deslocam, que o clima se altera, que os recursos naturais se esgotam ou são desviados para outros fins, ou ainda inutilizados e assim sucessivamente. As próprias contingências sociais se modificam à proporção que se alteram as dimensões do grupo ou as relações deste com outros grupos, ou que as instituições de controle se tornam mais ou menos poderosas ou competem entre si, ou o controle exercido leve ao contracontrole sob a forma de fuga ou revolta”.
Pensando na prática clínica Wolpe (1976) propõe que o objetivo central de uma psicoterapia está relacionado à retirada das origens do sofrimento e da incapacidade. Neste sentido Skinner (1993, pg.45) afirma que “Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa variável dependente – o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas variáveis independentes – as causas do comportamento – são as condições externas das quais o comportamento é função”. Desta forma, retomando uma idéia apresentada no início do trabalho, é fundamental que o analista do comportamento faça uso da análise funcional constantemente de forma a perceber as mudanças, antecipá-las e criar estratégias de intervenções adequadas à necessidade do indivíduo.
De acordo com Vandenberghe (2002) o analista do comportamento deve estar atento não somente às relações do cliente com o ambiente externo, mas à própria interação terapeuta-cliente, visto que o comportamento do analista estará sendo influenciado pelo comportamento do cliente e vice-versa.
Para finalizar Skinner e Vaughan (1985) apontam para a importância de se estar atento às próprias mudanças de forma a planejar uma velhice com qualidade. Neste sentido eles afirmam que “Uma boa época para se pensar sobre a velhice é a juventude, porque então é possível melhorar as chances de vir a vivê-la bem quando chegar” (1985, pg. 18). Ou seja, estar atento às mudanças, criar estratégias para adaptar-se às mesmas e conseqüentemente ter uma melhora na qualidade de vida.
CONCLUSÃO
A partir do que foi analisado até aqui a respeito do livro “Quem Mexeu no Queijo?”, é possível concluir que a história pode ser interpretada a partir da visão Behaviorista, bem como utilizado como recurso terapêutico clínico. Haja vista que o livro propõe dicas de como as mudanças podem ser enfrentadas e como se adaptar a elas. Para o terapeuta que se propõe a analisar os recursos terapêuticos existentes, inclusive um livro de auto-ajuda pode ser utilizado com o objetivo de levar o cliente a discriminar certos aspectos comportamentais (biblioterapia).
Contudo apesar do livro fornecer algumas dicas de comportamento, as contingências não são descritas de forma clara. O que até certo pode vir a impossibilitar a devida discriminação e conseqüente mudança de comportamento. Portanto no caso de um terapeuta utilizar deste recurso deve atentar a esse aspecto e até auxiliar o cliente a analisar e aplicar as dicas existentes, levando em consideração que cada indivíduo possui uma história de condicionamento única.
É importante salientar que todo e qualquer material de auto-ajuda necessita de uma avaliação crítica, pois existem livros que além de não descreverem contingências claras sugerem regras disfuncionais e talvez até perigosas. O que não é verificado no presente livro analisado há uma “falha” em descrever as contingências, contudo as regras podem ser utilizadas com uma supervisão adequada.
Falar de mudança é falar algumas vezes de eventos aversivos na história do indivíduo, contudo algumas mudanças não podem ser revertidas e, portanto a capacidade de discriminação e adaptação às novas contingências é necessária até para o melhor enfrentamento de tais eventos. Quando os indivíduos procuram a psicoterapia, a procuram na maioria das vezes por se encontrarem em situações aversivas, a psicoterapia entra, portanto com a promessa de reforçamento através da remoção dos aversivos e conquista de novos reforçadores.
Torna-se fundamental, portanto o conhecimento cada vez mais acurado a respeito dos processos humanos de mudança. Pois ser terapeuta é antes de tudo ser um estudioso, um cientista. Não bastasse isso o terapeuta deve também conhecer a si e sua forma de se relacionar com o mundo.
Minha Casa (Zeca Baleiro)
É mais fácil cultuar os mortos que os vivos
Mais fácil viver de sombras que de sóis
É mais fácil mimeografar o passado
Que imprimir o futuro
Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece
lendo maiakovski na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo
Nem quero ser estanque
Como quem constrói estradas e não anda
Quero no escuro
Como um cego tatear estrelas distraídas
Amoras silvestres no passeio público
Amores secretos debaixo dos guarda-chuvas
Tempestades que não param
Pára-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem não posso parar
Vejo o mundo passar como passa
Uma escola de samba que atravessa
Pergunto onde estão teus tamborins
Sentando na porta de minha casa
A mesma e única casa
A casa onde eu sempre morei.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Baum, W. M. Compreender o Behaviorismo. Porto Alegre: . ArtMed, 1999.
Catania, A. C. Aprendizagem: Comportamento, Linguagem e Cognição. Porto Alegre: AtrMed, 1999.
Johnson, S. Quem Mexeu no Meu Queijo. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Keller, F. S. Aprendizagem: Teoria do Reforço. São Paulo: E.P.U., 1973.
Meyer, S.B. O conceito de Análise Funcional. In: Delitti, M. (Org). Sobre o Comportamento e Cognição, Vol. 2. Santo André: . Arbytes, 1997.
Skinner, B. F. & Vaughan, M. E. Viva Bem a Velhice. São Paulo: Summus, 1985.
Skinner, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
Skinner, B. F. O Comportamento Verbal. São Paulo: Cultrix, 1978.
Skinner, B. F. O Mito da Liberdade. São Paulo: Summus, 1983.
Skinner, B. F. Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas: Papirus, 1995.
Staats, A. W. & Staats, C. K. Comportamento Humano Complexo. São Paulo: E.P.U., 1973.
Vandenberghe, L. A prática e as implicações da análise funcional. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, IV (1), 35-45, 2002.
Wolpe, J. Prática da Terapia Comportamental. São Paulo: Brasiliense, 1976.
Um comentário:
Parabéns Gabriel, muito bem pela iniciativa.
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